O Pantanal tem uma abundância de vida devido à sazonalidade do ciclo hidrológico, com períodos de seca e cheia que estão se alterando significativamente. Moradores locais notam que as cheias não ocorrem mais como antes, e períodos de seca têm se prolongado.
A água que entra pelo Pantanal Norte alaga as margens do rio Paraguai, conectando corpos de água e formando lagos. Tudo isso acontece de forma gradual e poética. O aumento do nível da água conduz os animais terrestres em direção às áreas não inundadas e a água dissolve nutrientes, fertilizando os corpos de água. A dispersão das sementes ocorre à medida que a água avança, repopulando as espécies vegetais que secaram no período da estiagem. Não é lindo esse processo?
Porém, desde 2006 cientistas nos dizem que o Sul da América Latina tem mostrado aumento na temperatura e diminuição na precipitação. No início de 2024, o nível do rio Cuiabá esteve entre os mais baixos já registrados fora do período de estiagem.
O atraso da cheia afeta a reprodução de animais, diminui a dispersão de sementes e dificulta o crescimento de plantas nativas, dando espaço para novos usos da terra, os quais vêm acompanhados, muitas vezes, de processos de fragmentação desses ambientes. Mas por que a cheia ficou abaixo do normal? Por que a chuva vem diminuindo?
Para responder, precisamos lembrar que a chuva vem dos “rios voadores”, que se formam na Amazônia pela quantidade enorme de vapor de água que as árvores produzem na evapotranspiração. Esse volume de vapor é soprado para o sul, no Pantanal, e trazem a umidade produzida pelas árvores. Contudo, segundo o PRODES/INPE (Projeto de Monitoramento da Floresta Amazônica por Satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), de 1998 a 2023 a taxa de desmatamento da Amazônia foi maior que 10 mil km² por ano, quase 3 vezes a área total da cidade de Cuiabá por ano.
Portanto, se diminuir a floresta na Amazônia, diminuímos os rios voadores, que por sua vez diminuem a chuva no Pantanal. Por isso o desmatamento é um fator importante na compreensão da escassez hídrica no bioma. A seca prolongada diminui a profundidade do rio e o crescimento da vegetação, além de aumentar os riscos de incêndios. O aumento da agricultura, da pecuária, da pesca e do turismo deve ocorrer de forma sustentável para que o Pantanal seja conservado.
Em escala local, podemos colocar em prática técnicas de reuso da água como cisternas, um sistema que capta e armazena água da chuva para uso futuro e auxiliar pequenos agricultores e comunidades tradicionais a lidar com a seca prolongada e as mudanças. Devemos todos, população, governo, pesquisadores, tecer uma rede com capacidade colaborativa para gerar ideias e soluções criativas.
Neste cenário, precisamos de uma política centrada na conservação e preservação das cabeceiras dos rios, de leis que definam o perímetro da área úmida em sua extensão máxima. Isso vai evitar catástrofes como a que aconteceu em maio de 2024 no Rio Grande do Sul.
É por isso tudo que no mês do Meio Ambiente do Polo Socioambiental Sesc Pantanal traz como tema estruturante de todas as suas ações: “Águas pantaneiras: retratos para o futuro”. Durante o mês de junho, vamos discutir os desafios e soluções para esta realidade com a participação de diferentes gerações de habitantes deste território e com uma iniciativa inédita de construção de cisternas junto a uma comunidade rural em Poconé.
É com informação, conhecimento e integração que vamos conseguir propor estratégias para reduzir os impactos sobre os sistemas naturais e humanos da região. Discutir o agora é fundamental para a conservação do Pantanal e todos que vivem no bioma.
Camila Hashimoto
Analista de Educação Ambiental do Sesc Pantanal
Analista de Educação Ambiental do Sesc Pantanal
Fonte: comunicacao.pantanal@sesc.com.br
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